1902 a
1916 - La Bélle Èpoque
A gravação em discos no Brasil se inicia no ano de
1902, sendo o primeiro disco brasileiro o lundu "Isto é bom", de autoria de
Xisto Bahia e gravado pelo cantor Bahiano. A música brasileira gravada nas duas
primeiras décadas do séc. XX, de 1902 a 1919, registrou basicamente a produção
realizada no século XIX, sendo que a figura feminina mais importante do período
jamais gravou como cantora: Chiquinha Gonzaga. Compositora de centenas de
músicas, é uma das personalidades mais importantes do período. Além de
Chiquinha, se destacaram também os compositores Ernesto Nazareth, Anacleto de
Medeiros e Catulo da Paixão Cearence. Os gêneros mais explorados nesse período
são a valsa, a modinha, a cançoneta, chótis e polcas, além do maxixe, que se
popularizou, em grande parte, devido às interpretações maliciosas das atrizes /
cantoras da época. Houveram alguns cantores no período que fizeram sucesso,
notadamente Bahiano, Mário Pinheiro, Cadete, Nozinho, Eduardo das Neves e
Geraldo Magalhães, este último principalmente como integrante da dupla Os
Geraldos. Porém foram poucas as cantoras, até mesmo porque a sociedade
acentuadamente machista da época não admitia que uma mulher tivesse a atividade
de cantora por profissão, colocando atrizes e cantoras no mesmo patamar social
das prostitutas. E foram justamente as atrizes de maior destaque no Teatro de
Revista as principais cantoras a gravarem discos no Brasil durante a Bèlle
Èpoque da MPB, como Pepa Delgado, Júlia Martins e Abgail Maia. Outro ponto
determinante para a escassez de talentos vocais femininos registrados em disco
foi a precariedade técnica do processo de gravação do período. O gravador
mecânico consistia em um cilindro metálico com uma membrana na ponta, onde o
cantor e os músicos se postavam na outra extremidade e, o mais alto que seus
pulmões pudessem, literalmente gritavam as músicas, para que as ondas sonoras
conseguissem, através do ar, sensibilizar a membrana do outro lado, que ia
sulcando a cera do disco, que viria a ser a matriz. Esse processo exigia um
esforço fenomenal dos cantores, que tinham que cantar em tons e volumes muito
altos, o que acabava por distorcer suas vozes. Lavando-se em consideração que
esses cantores populares pioneiros em sua maioria não tinham a técnica de canto
adequada para tal esforço, não é de se admirar que tão poucas mulheres tenham se
notabilizado como cantoras no período.
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