terça-feira, 5 de março de 2013

EMI relança caixa 'Clara' e reedita álbuns clássicos da cantora com bônus






domingo, 3 de março de 2013



EMI relança caixa 'Clara' e reedita álbuns clássicos da cantora com bônus

Por conta dos 30 anos de morte de Clara Nunes (1942-1983), a gravadora EMI Music - dona da obra fonográfica registrada na Odeon pela cantora mineira entre 1966 e 1982 - vai repor em catálogo os álbuns da artista a partir deste mês de março de 2013. Além da reedição da caixa Clara (2004), revisada por Vagner Fernandes (biógrafo da cantora), a EMI pretende reeditar de forma avulsa os álbuns mais emblemáticos da discografia da intérprete - em foto de Wilton Montenegro - em embalagem digipack e com faixas-bônus. Já os álbuns da caixa Clara voltam às lojas no formato 2 em 1, mas, desta vez, os álbuns Clara Nunes (1973) e Claridade (1975) serão reeditados com reproduções fiéis das capas originais. Na primeira edição da caixa, as capas saíram com adulterações. A morte de Clara vai completar 30 anos em 2 de abril de 2013.

domingo, 3 de março de 2013

2000 - 2012

1988 - 1999

1978 - 1987

1968 - 1977

1945 - 1956

1957 - 1967

1939 - 1944

1930 - 1938

1917 - 1929

1917 - 1929

1902 - 1916

1902 - 1916

1917 a 1929 - Chega a Gravação Elétrica

1917 a 1929 - Chega a Gravação Elétrica

O período que vai de 1917 a 1929 corresponde à transição entre a música produzida no século XIX, que foi registrada em disco durante todo o período anterior, e a Era de Ouro do Rádio. Nesse período a Música Brasileira se moderniza e se sedimentam novos gêneros musicais. Os acontecimentos mais importantes são o surgimento do samba e da marchinha de carnaval, que viriam a ser os dois gêneros mais gravados no Basil até a década de 50. O compositor mais importante desse período é Sinhô, sistematizador do samba, responsável pela criação de alguns clássicos da MPB, como o samba "Jura". Entre outros compositores importantes revelados no período, cabe citar Zequinha de Abreu, Pixinguinha e Marcelo Tupinambá. É durante a década de 20 que vão começar a surgir as primeiras cantoras profissionais de sucesso do país, sendo que a primeira delas, Araci Cortes, seguia a tradição de suas antecessoras, pois também atuava como atriz no Teatro de Revista. Porém Araci foi mais longe, fazendo gravações regulares e se tornando a cantora pioneira do Brasil, a primeira grande influência das cantoras brasileiras, tendo sido determinante na formação de estrelas que vieram na geração imediatamente posterior, como Carmen Miranda e Odette Amaral. Outras cantoras de destaque no período foram Zaíra de Oliveira, que mesmo não alcançando a popularidade de Araci, foi considerada uma das grandes vozes da época, e Otília Amorim, igualmente estrela do Teatro, mas que só fez suas primeiras gravações a partir de 1930. Entre os homens, se destacaram Francisco Alves, Vicente Celestino, Paraguassú, Fernando, Patrício Teixeira, Pedro Celestino, Gastão Formenti e Mário Reis. Em 1927 chega ao Brasil o sistema eletromagnético de gravação de som, que substituiria o arcaico sistema mecânico. Com a chegada do microfone e da gravação elétrica, a gravação da voz se tornou mais fácil, possibilitando um melhor aproveitamento do potencial dos artistas que começaram a surgir a partir de então. Com a revolução da gravação elétrica, cresce o número de compradores de disco, o que viria também a ser decisivo no aproveitamento de toda uma geração de artistas que começava a se projetar. Ainda na década de 20, chegam ao país o rádio e o cinema falado, os dois principais sustentáculos da Era de Ouro, que iria começar em seguida.

1902 a 1916 - La Bélle Èpoque

1902 a 1916 - La Bélle Èpoque

A gravação em discos no Brasil se inicia no ano de 1902, sendo o primeiro disco brasileiro o lundu "Isto é bom", de autoria de Xisto Bahia e gravado pelo cantor Bahiano. A música brasileira gravada nas duas primeiras décadas do séc. XX, de 1902 a 1919, registrou basicamente a produção realizada no século XIX, sendo que a figura feminina mais importante do período jamais gravou como cantora: Chiquinha Gonzaga. Compositora de centenas de músicas, é uma das personalidades mais importantes do período. Além de Chiquinha, se destacaram também os compositores Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearence. Os gêneros mais explorados nesse período são a valsa, a modinha, a cançoneta, chótis e polcas, além do maxixe, que se popularizou, em grande parte, devido às interpretações maliciosas das atrizes / cantoras da época. Houveram alguns cantores no período que fizeram sucesso, notadamente Bahiano, Mário Pinheiro, Cadete, Nozinho, Eduardo das Neves e Geraldo Magalhães, este último principalmente como integrante da dupla Os Geraldos. Porém foram poucas as cantoras, até mesmo porque a sociedade acentuadamente machista da época não admitia que uma mulher tivesse a atividade de cantora por profissão, colocando atrizes e cantoras no mesmo patamar social das prostitutas. E foram justamente as atrizes de maior destaque no Teatro de Revista as principais cantoras a gravarem discos no Brasil durante a Bèlle Èpoque da MPB, como Pepa Delgado, Júlia Martins e Abgail Maia. Outro ponto determinante para a escassez de talentos vocais femininos registrados em disco foi a precariedade técnica do processo de gravação do período. O gravador mecânico consistia em um cilindro metálico com uma membrana na ponta, onde o cantor e os músicos se postavam na outra extremidade e, o mais alto que seus pulmões pudessem, literalmente gritavam as músicas, para que as ondas sonoras conseguissem, através do ar, sensibilizar a membrana do outro lado, que ia sulcando a cera do disco, que viria a ser a matriz. Esse processo exigia um esforço fenomenal dos cantores, que tinham que cantar em tons e volumes muito altos, o que acabava por distorcer suas vozes. Lavando-se em consideração que esses cantores populares pioneiros em sua maioria não tinham a técnica de canto adequada para tal esforço, não é de se admirar que tão poucas mulheres tenham se notabilizado como cantoras no período.

Anos 2000 - A Modernidade

Anos 2000 - A Modernidade

O novo milênio da MPB permanece uma continuação do período anterior. A MPB tradicional permanece longe das paradas de sucesso, que são monopolizadas por nomes promovidos pelas gravadoras. As cantoras de maior sucesso dos anos 2000 são Ivete Sangalo e Ana Carolina. A gravadora Trama, de João Marcelo Bôscoli, filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli projeta trabalhos autorais de novos artistas pertencentes ao seu elenco, como Max de Castro, Wilson Simoninha, Jair Oliveira, Luciana Mello, Otto, Pedro Mariano e Fernanda Porto, esta a principal figura do Drum'n'Bass no Brasil.
Outra figura de notabilidade à chegar ao estrelato foi a cantora Maria Rita, filha de Elis Regina e César Camargo Mariano, que com um timbre de voz visivelmente semelhante ao da mãe, considerada por muitos a melhor cantora brasileira de todos os tempos, conquistou público e crítica, chegando ao disco de ouro com uma semana de vendas de seu primeiro CD.
Outra boa surpresa é a cantora baiana Pitty, que fazendo rock pesado conquista o público jovem esbajando talento e grandes vendas, além de prestígio entre os veteranos do gênero, como Rita Lee e Freját.
Em 2000, Bebel Gilberto, filha de João Gilberto e Miúcha grava o disco "Tanto Tempo" no EUA, deslanchando sua carreira iniciada ainda na década de 80, e se tornando rapidamente uma das cantoras brasileiras de maior popularidade no exterior.
Os anos 2000 ocasionam um novo boom de cantoras interessantes. Pela ordem de aparecimento podem ser destacados os nomes de Paula Lima, Teresa Cristina, Vanessa da Mata, Fabiana Cozza, Roberta Sá, Céu, Mariana Aydar, Ana Cañas e Marina de La Riva. Os anos 2000 cristalizam definitivamente a tendência dos artistas de MPB em trilharem caminhos à margem do grande mercado, sendo que dessas cantoras, a única a atingir o grande público é a mato-grossense Vanessa da Mata.

1988 a 1999 - Modas e Jabá

1988 a 1999 - Modas e Jabá

Na década de 90 os grandes nomes da MPB ainda em atividade (Caetano, Gil, Gal, Bethânia, Mílton Nascimento, Chico Buarque) continuam seus trabalhos, porém começam a ter menor espaço na mídia. Do boom da geração rock da década de 80, só mantêm a mesma popularidade os grupos Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs, Engenheiros do Hawaii e Kid Abelha. As gravadoras acabam institucionalizando a prática do jabá (pagamento para inclusão de músicas em programação radiofônica, visando sucesso rápido), reservando dinheiro para promover as modas do "sertanejo", da Axé-Music e do pagode, que rapidamente se consomem e não empolgam a crítica. O sertanejo da década de se carcteriza como uma facção popularesca da música romântica, porém em rítmo de "country" americano, sem praticamente nenhuma vinculação com a música caipira brasileira, de artistas como Inezita Barroso, Pena Branca & Xavantinho ou Almir Sater. O pagode, da mesma forma, dilui o rítmo de samba num mar de letras românticas, levando uma avalanche de grupos às paradas de sucesso por dois ou três anos. Já o Axé Music, oriundo da Bahia, que inicialmente era um movimento de revigoração da música de carnaval da Bahia, e que apresentou ao Brasil artistas de peso como Margareth Menezes, Olodum e Daniela Mercury, logo foi súper exposto e a fórmula também se esgotou.
Sem o mesmo apoio das gravadoras, em Pernambuco acontece o movimento Mangue Beat, que revela o artista Chico Science, responsável pela mais interessante renovação acontecida na MPB na década de 90. Também surgem de forma individualizada artistas vindos de várias partes do Brasil, destacando-se Ed Motta, Arnaldo Antunes, Lenine, Paulinho Moska, Chico César, Carlinhos Brown, Zeca Baleiro, Otto e outros.
Uma nova geração de cantoras de sucesso surge com o aparecimento de Marisa Monte, Adriana Calcanhotto, Cássia Eller, Fernanda Abreu, Zélia Duncan, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Luciana Mello e Ana Carolina. Além destas, um grande número de cantoras passam a figurar na lista de melhores cantoras do Brasil, porém longe das paradas de sucesso, realizando seus trabalhos de forma alternativa e conquistando a crítica e público seleto: Suzana Salles, Vânia Abreu, Daúde, Belô Velloso, Mônica Salmaso, Cris Braun, Jussara Silveira, Rita Ribeiro, Virgínia Rodrigues, Simone Guimarães, Virgínia Rosa e Rebeca Matta. Também podemos citar Ithamara Koorax, Badi Assad, Luciana Souza, estas residindo no exterior.

1978 a 1987 - Vanguarda Paulistana e BRock

1978 a 1987 - Vanguarda Paulistana e BRock

O final da década de 70 foi marcado pelo surgimento que uma grande leva de novas cantoras, que ficaram conhecidas como "as cantoras de 79" (ano em que a maior parte delas gravou o primeiro disco). Zizi Possi, Marina Lima, Elba Ramalho, Fátima Guedes, Joanna, Ângela RoRo, Olívia Byington despontaram com as grandes promessas musicais para a década de 80, e de fato todas elas prosseguem suas carreiras até hoje.
No início da década de 80 surge em São Paulo o movimento denominado "Vanguarda Paulistana", de significativa importância para a MPB da década de 90. Com uma linguagem musical baseada numa temática mais urbana, desenraizada, universal e cosmopolita, o movimento mesclava elementos eruditos a um experimentalismo radical. Os líderes eram os compositores Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. O disco "Clara Crocodilo", de Arrigo, lançado em 1980, tornou-se um marco desse movimento. Tanto Arrigo quanto Itamar, usavam em suas gravações e shows vozes femininas que se confirmaram como algumas das melhores cantoras surgidas no período. Entre as cantoras surgidas com a Vanguarda Paulistana, pode-se citar Eliete Negreiros, Ná Ozzetti (vocalista no grupo Rumo), Vânia Bastos, Tetê Espíndola, Alzira Espíndola, e, posteriormente, Suzana Salles e Virgínia Rosa.
Paralelamente surge o rock nacional, com o surgimento de uma nova safra de ídolos, com várias bandas que refletem as diversas tendências do que se produz nos Estados Unidos e na Inglaterra, sendo o amior sucesso o dos grupos Blitz, Legião Urbana, Os Paralamas do Sucesso, Titãs, Engenheiros do Hawaii, Barão Vermelho e Kid Abelha, de onde surgiu a principal cantora do movimento, Paula Toller, talvez a cantora de maior sucesso surgida na década de 80. O rock dominou o panorama musical brasileiro quase até o final da década, quando os alto investimentos das gravadoras em artistas de fácil retorno financeiro começa a embotar o brilhantismo do que se ouve na programação radiofônica, com as modas da música sertaneja, do pagode, e do Axé Music.
Outras cantoras surgidas no período de destaque: Bebel Gilberto, Diana Pequeno, Jane Duboc, Leila Pinheiro, Rosa Passos, Rosana, Sandra de Sá, Selma Reis e Verônica Sabino.

1968 a 1977 - Depois da Tropicália

1968 a 1977 - Depois da Tropicália

Em 1967, Caetano Veloso e Gilberto Gil, cercados por Tom Zé, Gal Costa, Mutantes, Nara Leão, Rogério Duprat, Torquato Neto e Capinan, lançam o movimento Tropicalista, movimento poético de vanguarda que tinha como meta acabar com as divisões impostas pela MPB engajada de Elis Regina, Geraldo Vandré, Edu Lobo e Dori Caymmi, entre outros. O movimento buscava uma evolução da MPB à partir do ponto de onde João Gilberto tinha parado, estagnado com a geração pós-bossa, segundo Caetano e Gil. O movimento mesclava a Bossa-Nova com a Jovem Guarda e com a MPB tradicional pré-bossa, o seja, tudo que para a geração da década de 60 parecia diverso, era unificado pelos tropicalistas. O movimento foi muito criticado, porém se mostrou um divisor de águas, pois a partir daí foi que a música brasileira começou a se diversificar, aceitando os gêneros estrangeiros, como o rock, a soul music, blues e jazz, e mais tarde, disco music, ao mesmo tempo que resgatou o passado da MPB, ensejando o início das "releituras" dos grandes clássicos pré-bossa nova pelos intérpretes da MPB. A cantora Gal Costa, musa do movimento, foi de grande influência para as outras cantoras, a partir do momento em que, numa guinada de 180 graus, mudou seu estilo bossa novista de cantar influenciada pela cantora americana Janis Joplin, se tornando a mais importante cantora do período, a revolucionário do canto pós-tropicalismo, assim como foi João Gilberto (seu ídolo) na Bossa Nova.
As principais cantoras que surgiram no período foram Joyce, Rita Lee, Baby Consuelo (ainda como membro do grupo Novos Baianos), Beth Carvalho, Simone, Alcione, Fafá de Belém, além do sucesso de Gal Costa, Elis Regina, Maria Bethânia e Clara Nunes, vindas do período anterior.

1957 a 1967 - Bossa Nova, Jovem Guarda e Festivais

1957 a 1967 - Bossa Nova, Jovem Guarda e Festivais

Começa em 1958 a segunda grande fase da MPB, com o surgimento da Bossa Nova, que modernizou definitivamente a MPB, se incorporando aos padrões estabelecidos pela geração de 30. Como principais criadores da bossa nova estavam os cantores João Gilberto e os compositores Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e toda uma geração de cantores. Várias cantoras do período anterior se envolveram com a bossa-nova, como Elizeth Cardoso, Dóris Monteiro, Maysa, Claudette Soares, Elza Laranjeira, Lenita Bruno, Marisa Gata Mansa e, principalmente, Sílvia Telles, uma das mais importantes intérpretes do movimento. Entre as novatas reveladas com a bossa nova estão Alaíde Costa e Nara Leão.
Paralelamente à Bossa Nova, quase que de encontro a ela, chega ao Brasil o fenômeno mundial do rock. Trazido pelo cinema e inaugurado por uma gravação da cantora de samba-canção Nora Ney, o Brasil teve como primeiro ídolo do rock a cantora Cely Campello, que entre os anos de 1958 e 1960 fez imenso sucesso, afastando-se em seguida para se casar. Porém deixou espaço aberto para a Jovem Guarda da década de 60, que lançou ao estrelato os cantores Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.
Em meados da déca de 60 começa a Era dos Festivais de MPB, exibidos via TV para todo o Brasil, que seria o veículo de quase todas as novidades da música brasileira até o início da década de 70, e que revelou vário artistas, se destacando entre as cantoras Elis Regina, Nana Caymmi, Quarteto em Cy, Gal Costa e Marília Medalha.
Além das já citadas se destacaram de forma individual, as cantoras Elza Soares, Clementina de Jesus, Leny Andrade, Maria Bethânia e Clara Nunes.
Vindas de períodos anteriores, ainda se destacaram durante a década de 60 as cantoras Elizeth Cardoso, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Maysa, Dóris Monteiro, e outras.

1945 a 1956 - O Baião, O samba Canção, a Pré-Bossa.

1945 a 1956 - O Baião, O samba Canção, a Pré-Bossa.

O período que compreende os anos de 1945 a 1956 representa uma transição entre a tradição da MPB e a modernidade, com a convivência de veteranos da MPB, com artistas que iriam começar uma grande revolução musical chamada bossa-nova.
Duas modas marcaram o período: o baião e o samba-canção. O baião foi lançado no país inteiro pelo cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga, e logo dominou as paradas, passando a fazer parte do reperório de artistas que nada tinham de nordestinos, como Dalva de Oliveira e Emilinha Borba. Já o samba-canção nada mais era que uma variante lenta e sentimental do samba, no qual os grandes representantes foram o compositor Antonio Maria e, principalmente, a cantora Nora Ney, que criou uma forma de cantar diseuse, que contrastava com as vozes potentes e extrovertidas de suas contemporâneas, e que influenciou cantoras da geração anterior, como Carmen Costa, que adotando o mesmo estilo, teve na década de 50 seu período de maior popularidade. Porém, como toda moda que se preze, esses dois estilos trouxeram uma avalanche de seguidores não tão talentosos quanto seus criadores, que acabaram por diluir e esgotar rapidamente as fórmulas.
Paralelamente, porém estreitamente ligada ao pessoal do samba-canção, surge uma geração de intérpretes que mais influenciados pela música americana que pela brasileira, iria começar um processo de suavização no estilo de cantar, tendo como os primeiros representantes os cantores Dick Farney e Lúcio Alves. Com o surgimento no Sinatra-Farney Fã Clube, outros artistas igualmente influenciados pelo jazz americano iria surgir, como os cantores Johhny Alf, Dóris Monteiro, Sílvia Telles e outros, que se tornariam os artistas que começariam a buscar uma modernização da MPB que viria desembocar anos mais tarde na Bossa-Nova.
Também é nessa fase que o rádio tem seu período de maior popularidade, com enorme sucesso dos programas de auditório de artistas como Ângela Maria, e as eternas rivais Emilinha Borba e Marlene.
Entre as cantoras, o período foi fértil, sendo que os principais nomes surgidos foram Elizeth Cardoso, Ângela Maria, Dóris Monteiro, Nora Ney, Sílvia Telles, Dolores Duran, Maysa e Helena de Lima

1939 a 1944 - Era de Ouro - 2ª Fase

1939 a 1944 - Era de Ouro - 2ª Fase

A segunda fase da Era de Ouro se caracteriza pelo amadurecimento da produção da geração da década de 30, que iria entrar nos anos 40 em sua melhor forma, e com a chegada de outros artistas que iriam engrossar ainda mais o casting das gravadoras e rádios. Como reflexo do culto à voz, que já se desenvolvia no Brasil desde o fim da década de 20, surgem mais nomes que se tornaram mitos da MPB, como Carmen Costa, Heleninha Costa, Isaura Garcia, Ademilde Fonseca, Carmélia Alves, e as rivais Marlene e Emilinha Borba, todas com carreiras que se estenderam por mais de duas décadas. Devido ao acontecimento da II Guerra Mundial, apesar da produção musical ter sido forte, sendo a música uma válvula de escape da população, o clima de apreensão que existia no ar, atrelado ao racionamento de matéria prima, em comparação à Década de 30, acarretou numa retração na quantidade de música gravada e lançamento de artistas. O fim da guerra coincide também com o declínio dos artistas da década de 30, quando as fórmulas utilizadas por toda a geração de compositores e intérpretes começa a se esgotar, possibilitando uma nova fase de transição a seguir, na qual os destaques seriam as ondas do baião e do samba-canção.

1930 - 1938 - A Época de Ouro - 1ª Fase

1930 - 1938 - A Época de Ouro - 1ª Fase

Começa em 1929 a chamada Era de Ouro da MPB, quando os músicos brasileiros se profissionalizam e estabelecem padrões que vigoram ainda hoje. Os fatores que levaram à possibilidade do acontecimento da Época de Ouro foram a criação do samba e da marchinha, ainda na década de 20, a chegada do rádio ao país, que possibilitou o aproveitamento dos cantores e cantoras, o surgimento da gravação elétrica, e o cinema falado, onde era se possível ver os cantores em ação, já que na época os únicos meios de divulgação da imagem dos artistas eram as revistas. O primeiro artista a se projetar nesse período foi o cantor Mário Reis, que cantava de modo mais natural, rompendo com a tradição operística de toda a geração anterior, exemplificada principalmente nos vozeirões potentes de Francisco Alves e Vicente Celestino, e aproveitando todas as possibilidades que a criação do microfone traziam para os cantores populares, que a partir da atuação de Mário, passaram a utilizar não só o volume de suas vozes, mas as sutilezas interpretativas, viabilizadas somente com o uso da tecnologia elétrica de captação do som. Entre as cantoras, o símbolo maior do período é Carmen Miranda, que se tornou a primeira cantora brasileira de sucesso de massa, um sucesso que se extenderia ao exterior, quando Carmen foi para os Estados Unidos para se tornar uma das estrelas do cinema americano. Além de Carmen, outras cantoras de importância nessa fase foram sua irmã Aurora Miranda, a segunda cantora que mais gravou no Brasil na década de 30, Aracy de Almeida e Marília Baptista, as duas mais importantes intérpretes da obra do compositor Noel Rosa, Elisa Coelho, cantora que se notabilizou principalmente pelo lançamento da canção "No rancho fundo" (Ary Barroso - Lamartine Babo), que se tornou clássica em sua interpretação, Odette Amaral, as irmãs Linda e Dircinha Batista, e Dalva de Oliveira, que começou como integrante o grupo Trio de Ouro, e a partir de 1947 desenvolveria uma bem sucedida carreira solo.

Eternas, magníficas, as cantoras do rádio

Eternas, magníficas, as cantoras do rádio


Um encontro com Carmélia, Carminha e Ellen, para falar de música e filmes


11 de junho de 2009 | 0h 00

Luiz Carlos Merten - O Estadao de S.Paulo
Elas se lembram com saudade, não propriamente nostalgia, dos áureos tempos da Rádio Nacional. "Apesar do glamour, éramos funcionárias da rádio, que era uma autarquia. Tínhamos de bater ponto e seguíamos a escalação dos programas, como uma ordem do dia. Mas, na hora de cantar, íamos de gala, tínhamos roupas maravilhosas, não era como hoje, quando os artistas fazem show de roupa rasgada e vira moda." Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas e a caçula do grupo - "A nossa menina" -, Ellen de Lima. Há mais de 20 anos Carmélia e Ellen voltaram à estrada, fazendo shows. A partir de 1988, As Eternas Cantoras do Rádio virou um hit no palco e em CD. Carminha integrou-se ao grupo há oito anos, substituindo Nora Ney. As três estão no documentário Cantoras do Rádio, de Gil Barone e Marcos Avellar, que estreou ontem. Há uma quarta cantora no filme, mas Violeta Cavalcanti, vítima de Alzheimer, já não canta mais.

Cada uma representa um estilo. Carmélia, o baião; Carminha, com sua voz de contralto, a fossa; e Ellen, com sua habilidade de soprano, não se fixa em um estilo nem gênero, mas tem liberdade para cantar todos os clássicos. Violeta, ausente neste encontro que se realiza na chuvosa tarde de quarta-feira, num hotel dos Jardins, tinha - tem - o samba no corpo, e na voz. O repórter comenta o atual boom dos documentários musicais. Fala de Um Homem de Moral, de Ricardo Dias, sobre Paulo Vanzolini - Carmélia Alves dispara a cantar, "Não fica no chão/Nem espera que mulher/lhe venha dar a mão..." O repórter insiste, faz a pergunta tola, se elas conhecem Ronda? Como? "Ronda é um clássico!" É a vez de Ellen cantarolar.

Uma carioca (Carmélia), outra mineira (Carminha), a terceira, baiana (baianíssima!, Ellen). Representam a própria brasilidade. Todas reinaram na Nacional, a rádio mais poderosa do Brasil - do mundo! -, que dividia suas cantoras em três plantéis. Havia um primeiro time inatingível, as divinas; um meio de campo, no qual estavam; e o terceiro time, formado por cantoras que iam parar na Rádio Nacional por indicação de políticos - era uma autarquia, não se esqueçam. A rádio ficava na lendária Praça Mauá, no Centro do Rio. Todas tiveram forte ligação com São Paulo. Carmélia foi casada - durante 54 anos - com o paulista Jimmy Lester, que cantava em inglês. Em 1998 ele morreu em Teresópolis, no Estado do Rio, e ela o trouxe para ser enterrado em São Paulo. Nesta semana, por conta da agenda de lançamento de Cantoras do Rádio na cidade, Carmélia circulou bastante por Sampa. Ao passar pelo cemitério, teve uma coisa. A saudade bateu forte.

Carminha e Ellen têm outra ligação com São Paulo. Como crooners, revezavam-se na boate Oásis. Cada vez que a temporada de algum artista não caía no agrado do público, o dono, desesperado, chamava Carminha ou Ellen no Rio e elas vinham salvar a pátria. Falam todas ao mesmo tempo. Cada uma tem sua história para contar. Carmélia Alves arregala o olho e pergunta - "Você sabia que sou uma assassina?" Lembra do sujeito que assistia a um show numa boate e que disse: "Carmélia, você me mata com seus baiões!" e morreu de verdade, fulminado por um ataque. A história, contada agora, é tragicômica, mas foi um horror. Carmélia tinha um título e sempre foi o de ?rainha do baião?, mesmo quando era crooner da boate do Copacabana Palace, frequentada pela nata do café soçaite. O repórter diz que viu o documentário sobre o parceiro de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, O Homem Que Engarrafava Nuvens. E...? "O filme é muito legal, tem vários números seus." Carmélia só cantava Humberto Teixeira ou tinha uma ligação mais calorosa com ele? "O Humberto foi um dos fundadores, com o Jimmy, do Clube da Chave, em Copacabana. Era um irmão!"

Ellen passou pelo Clube do Guri, na Rádio Mauá, pelo programa de calouros de César de Alencar e também pelo famoso Papel Carbono, de Renato Murce, quando passou no teste imitando a diva Heleninha Costa. Tornou-se conhecida do público por ser a intérprete da célebre Canção das Misses, escrita por Lourival Faissal, para servir de tema do tradicional concurso de Miss Brasil. De todas as cantoras - as rainhas - do rádio, foi a única que teve uma experiência como teleatriz (na Globo), contracenando - acreditem! - com Fernando Montenegro e Sergio Britto. Carminha veio de Belo Horizonte, convidada por um descobridor de talentos que a deixou na mão, mas o lendário Heron Domingues a ouviu cantar e o resto é história. Carminha foi parar no elenco da Rádio Nacional. Seu filho, o saxofonista Raul Mascarenhas Jr., casou-se com Fafá de Belém. Tiveram a filha Mariana. Carminha fala na neta, também cantora, que incorporou o repertório das divas do rádio.

Todas passaram pelas chanchadas da Atlântida, fingindo que cantavam na tela. "O disco tocava numa vitrola e, às vezes, a agulha emperrava", lembra Carmélia. Cantoras do Rádio é outra coisa. Outra fase da carreira delas, outra fase do próprio cinema brasileiro. O filme é uma apaixonada declaração de amor às eternas cantoras do rádio. Onde vão, há um numeroso público de terceira idade, mas existem também os jovens, que cantam com elas e as reverenciam. É por isso que, quando falam da Rádio Nacional, sentem saudade, mas não tristeza. A vida tem muitas fases e a atual está sendo boa. Carminha Mascarenhas, aos 79 anos, está na fase de se desfazer de muita tralha que acumulou ao longo de sua carreira. Pelo sotaque, ela percebe que o repórter é gaúcho. "Quer o meu Laçador?" Carminha ganhou o troféu de prata cantando Lupicínio Rodrigues. Havia um belo dueto sobre o compositor em Cantoras do Rádio. Carminha e Ellen cantando o rei da dor de cotovelo. Os direitos são caros e o número, como muitos outros, foi cortado. Mas elas cantarolam trechos de Vingança e é um privilégio para o repórter.